Poema

Eu

Eu sou a que no mundo anda perdida,
Eu sou a que na vida não tem norte,
Sou a irmã do Sonho, e desta sorte
Sou a crucificada … a dolorida …

Sombra de névoa ténue e esvaecida,
E que o destino amargo, triste e forte,
Impele brutalmente para a morte!
Alma de luto sempre incompreendida! …

Sou aquela que passa e ninguém vê …
Sou a que chamam triste sem o ser …
Sou a que chora sem saber porquê …

Sou talvez a visão que Alguém sonhou,
Alguém que veio ao mundo pra me ver
E que nunca na vida me encontrou!

Florbela Espanca, in “Livro de Mágoas”

Revista Orpheu

Publicada em 1915 em dois fascículos distintos, a Revista Orpheu foi o que impulsionou o modernismo em Portugal. Quando foi publicada, causou um grande escândalo na sociedade da época, por apresentar correntes vanguardistas na sua escrita.

Ambas as publicações contaram com o contributo de diversos ilustres escritores da época. Segundo Fernando Pessoa (um dos escritores que participou), a revista é a “síntese de todos os movimentos literários modernos”.

Um terceiro número da revista esteve para ser publicado em 1916, mas por motivos financeiros, tal não aconteceu.

Textos da Revista Orpheu nº1

O ECO

Tão tarde. Adão não vem? Aonde iria Adão?!

Talvez que fosse á caça; quer fazer surpresas com alguma corça branca lá da floresta.

Era p’lo entardecer, e Eva já sentia cuidados por tantas demoras.

Foi chamar ao cimo dos rochedos, e uma voz de mulher também, também chamou

Adão.

Teve medo: Mas julgando fantasia chamou de novo: Adão? E uma voz de mulher

também, também chamou Adão.

Foi-se triste para a tenda.

Adão já tinha vindo e trouxera as setas todas, e a caça era nenhuma!

E ele a saudá-la ameaçou-lhe um beijo e ela fugiu-lhe.

– Outra que não Ela chamara também por Ele.

José de Almada Negreiros
“ABERTURA DO “LIVRO DA VIDA””
Transcendências nublóticas, metafísicas raras,
Modelei a minha Obra com minhas mãos avaras.
Litanias litúrgicas de febre de paixão,
Crepúsculos de fogo ardendo em sentimento,
Colunas de Além-Sonho, arcos de comoção,
Claustros de Arqui-Tristeza aonde o Pensamento
Vive longe do mundo, em funda adoração…
Castelo esguio
Sobre o rio
Do Amor.
Armei-me cavaleiro,
Quebrou-se minha lança de guerreiro
No combate da Dor.
Arquitectónicas teorias de Beleza,
Transfigurações, ressurreições, e a Natureza
No fundo longo, sensitivo da emoção,
Bisantinos jardins onde a Tarde agoniza,
Fluidicos aromas em mística ascensão,
Emanações d’Amor que a alma diviniza
Em Alma de outra Alma – eterna comunhão…
Praia tão desconhecida
Do mar da vida vivida
Onde o luar nunca vem,
De onde a nau da minha Alma
Parte pela noite calma
A caminho do Além.
E eis a grande rota seguida em mim somente,
P’ra que parta do mundo e chegue até aos céus,
E onde Tu e Eu iremos lentamente
Da Vida para Deus.
“Lisboa – 1914.”
Cortês-Rodrigues
“OPIÁRIO”
Ao Senhor Mário de Sá-Carneiro
É antes do ópio que a minh’alma é doente.
Sentir a vida convalesce e estiola
E eu vou buscar ao ópio que consola
Um Oriente ao oriente do Oriente.
Esta vida de bordo ha-de matar-me.
São dias só de febre na cabeça
E, por mais que procure até que adoeça,
Já não encontro a mola pra adaptar-me.
Em paradoxo e incompetência astral
Eu vivo a vincos d’ouro a minha vida,
Onda onde o pundonor é uma descida
E os próprios gozos gânglios do meu mal.
É por um mecanismo de desastres,
Uma engrenagem com volantes falsos,
Que passo entre visões de cadafalsos
Num jardim onde há flores no ar, sem hastes.
Vou cambaleando através do lavor
Duma vida-interior de renda e laca.
Tenho a impressão de ter em casa a faca
Com que foi degolado o Precursor.
Ando expiando um crime numa mala,
Que um avô meu cometeu por requinte.
Tenho os nervos na forca, vinte a vinte,
E caí no ópio como numa vala.
(…)
Excerto do poema de Fernando Pessoa
REFLEXOS
“(Poema da Alma enferma)”
Minha alma treme como um lírio
dentro da água dos teus olhos –
minha alma treme como um lírio,
com as mãos varadas por abrolhos.
Toda de linho de noivado,
á tua porta a tremer,
toda de linho de noivado
minha alma vai amanhecer.
Anda um perfume de além-morte
na sua voz dolorida,
anda um perfume de além-morte
nas vestes pálidas da vida..
A hora lilás desabotoa
em flores de cinza e brasa,
a hora lilás desabotoa
com um rumor sonâmbulo de asa.
Pelo canal rezam os barcos
cheios de graça e de glória…
pelo canal rezam os barcos
a triste história da memória…
Minha alma acorda o cais deserto,
florida em rosas de magoa –
minha alma acorda o cais deserto,
e a sua sombra é um cisne na água…
E sobre as lâmpadas extintas
tombam fúnebres antenas,
e sobre as lâmpadas extintas
morrem as ultimas falenas.
As torres cismam pelo espaço.
No silêncio erram violinos –
as torres cismam pelo espaço…
na penumbra cogitam sinos…
Minha alma toda se enclausura
no jardim que entardeceu…
minha alma toda se enclausura
num beijo irreal que não nasceu…
Dentro da água dos teus olhos
minha alma treme como um lírio…
Ronald de Carvalho

Sinopse

O conceito de tertúlia descreve um encontro entre amigos, familiares ou apenas indivíduos que frequentam o mesmo estabelecimento, que se juntam com o propósito de discutir temas que vão deste a actualidade política e do futebol aos mais simples e vulgares assuntos de uma aldeia. Foi essencialmente a partir do séc.XIX que este tipo de reuniões ganharam uma maior força em Portugal, era em cafés como A Brasileira e o Nicola que se reuniam personalidades como Alexandre Herculano, Bocage, Almada Negreiros, Fernando Pessoa e Mário de Sá Carneiro, discutindo a política, a actualidade, a arte e a cultura.

Assim, tendo por base este conceito, prosseguimos a uma chuva de ideias que permitissem colocar todos os poetas escolhidos pelos membros do grupo num só local, como se de um encontro entre amigos se tratasse. No entanto, entre os oito alter-egos reparámos que havia um que se destacava de todos os outros devido à sua diferença de idade. Maria Capaz é uma criança curiosa da qual decidimos retirar algum proveito de forma a tornar toda a acção mais interessante e única.

Por outro lado, decidimos também tomar como referência o movimento DADA, mais concretamente o processo de formação e desenvolvimento deste movimento. Iniciado em 1916 na cidade de Zurique, no estabelecimento de Hugo Ball designado de Cabaret Voltaire, onde se reuniam artistas, escritores e intelectuais que deram inicio aquele que seria o movimento de vanguarda que mais iria contra as regras e padrões impostos pelos anteriores movimentos.

 

Sinopse

Pouco iluminado é o espaço onde o grupo se reúne. Duarte Corvo, Maria Capaz, Maria Felicidade, Gaspar Montalvão, Creta de Campos, Álvaro Portilha, Elizabeth e Roberto são os poetas membros desse grupo, pessoas diferentes do resto da sociedade, rejeitadas por aquilo que é o padrão da sociedade. Naquele local obscuro, os oito poetas vão chegando e sentando-se nas apenas oito cadeiras existentes. Ao citarem os poemas escolhidos para aquela madrugada dão por falta de Maria Capaz e refletem sobre isso. Heis o inicio de uma discussão em volta da poesia. Não se percebe se chegarão a algum lado, mas vão discutindo, uns exaltados, outros isolados e muito marcados pela falta de Maria Capaz.

Guião

CENA 1

Cenário – Local onde decorre a reunião semanal entre amantes da poesia. (Este é simples, círculo de cadeiras, com brinquedos de criança espalhados pelo chão.)

GASPAR
(com um postura claramente incomodada)

Não é cedo para estar a beber?

ELIZABETH
Tu bebes quando tens a necessidade de aliviar a tua alma, isto é assim meus caros, não há tarde nem cedo para começar.

ÁLVARO (com uma atitude cínica e apática)

Ama o que fazes que qualquer dia deixarás de o fazer.

(A conversa desencadeia-se, revelando gostos e atitudes dos Outros: A carência de Gaspar. A perversidade de Roberto. O silêncio misterioso de Maria. A curiosidade desperta de Creta. A atitude solida de Corvo. O realismo desencorajador de Elizabeth. A indiferença de Álvaro)

ROBERTO
Porque é que estão as coisas da Maria no chão?

CRETA
Acho que ela ainda está a dormir…

ROBERTO
(com uma voz provocadora)

Achas?

CRETA (firmemente, num tom defensivo)

Acho. Não tenho a certeza, não estou ao pé dela. Se calhar ainda está no parque.

ROBERTO
(malicioso)

Cá para mim foi raptada ou… violada.

GASPAR
(Claramente agitada e perturbada)

Não digas isso!!

ELIZABETH
Não diz porquê? Se calhar até é verdade.

ÁLVARO
Há que ser realista.

MARIANA
Pode só estar no mundo dela..
(…)
Posso ver essa revista?

ROBERTO
Podes.

ELIZABETH
Para veres cus e mamas? É isso que o Roberto passa a vida a ver, não é..

ROBERTO
Mas tem algum mal, ver cus e mamas?

ELIZABETH
Eu acho que não, acho que faz pior beber de manhã… Mas é assim, cada um a sua cena, não é?
(…)
(todavia Mariana folheia a revista, cautelosamente)

ROBERTO
Então Creta, gostas da revista? Se calhar não faz muito teu gosto…
(…)

CRETA
Eu não percebo porque é que a Maria Felicidade está ali tão calada.
(Maria mantém-se em silêncio, com o seu olhar atento e controlado.)

ELIZABETH
Teve uma noite muito atribulada ontem…

ROBERTO
É o costume.

GASPAR
(com um reflexo protetor)

Não sejam assim!

ELIZABETH
Nós estamos a ser realistas! Nem toda a gente é feliz e contente…

ROBERTO
Só porque te chamas felicidade… Não tem nada a ver com isso.

CORVO
..lá na minha zona há malucas dessas. Nem sabem o que eu faço com elas…

ÁLVARO
(trocista)

O que é que fazes com elas?

CRETA
(curiosa)

O que é que fazes com elas?

GASPAR (preocupada)

Que é que fazes com elas?

CORVO
Primeiro, levo-as para casa. E depois…

ROBERTO
Calma lá, que isto é interessante…

CORVO
(hesitante)

(…) e depois, a umas, arranco-lhes a cabeça.

ÁLVARO

Devias ter cuidado com o que dizes.

ELIZABETH

Qualquer dia levas uma porrada… É só meteres-te com a gaja errada.

CORVO

Elas caem todas.

ELIZABETH

Talvez as burras…

CRETA

A Maria Felicidade caía…

ROBERTO

Ela nem diz nada…

GASPAR

Parem!!

(A conversa disperse-se, e o grupo começa a discutir)

ELIZABETH

Isto é o que acontece quando a miúda não está cá. Parece que a gente esquece um bocado o
que se passa lá fora..

CORVO

Nunca pensei dizer isto.. mas eu até gosto da miúda.

CRETA

Ela é alegre.

ÁLVARO

É uma criança. O mundo dela é mais fácil.

CRETA

Também não sei como é que ela se juntou a nós…

GASPAR

É verdade…

CORVO

É por isso que eu gosto dela.. Porque ela não tem medo.

ÁLVARO

É verdade que é uma criança interessante.

CRETA
Se tivesse medo, era contrário ao seu nome.. (irrequieta com a máquina)

ROBERTO

E esse gravador, já podias parar com isso?

CORVO

Sinceramente também já me está a irritar.

ELIZABETH

Não vejo qual é a piada de andares a gravar, honestamente.

CRETA
(hesitante)

Satisfaz.

ROBERTO

Satisfaz o quê?

CRETA

Necessidades.

ROBERTO

Tens desejos de ouvir as nossas conversas que nós temos, é isso?

CRETA

Não são as conversas! Eu nem estava a gravar…

ÁLVARO

Não gosto de ser gravada em conversas privadas.

CRETA

Eu não estava a gravar. Eu não gravo conversas… Eu gravo sons.

CORVO

Sons de quê?

CRETA
(com um tom surpreendentemente sereno)

Sons… violentos.

GASPAR

… e gostas?

CRETA

Gosto.

ROBERTO

Gostas de violência?

CRETA

Gosto.

ELIZABETH

Olha! Junta-te aqui ao nosso caro amigo (apontando para a Nádia) que gosta de partir a cabeça às miúdas, não é…

CRETA

Ele é demasiado violento, tem um problema.

CORVO

Devias ouvir a falar as vozes que estão na minha cabeça… Elas sim, são violentas.

CRETA

Eu gostava era de ouvir falar ali a Maria Felicidade, mas ela não diz uma palavra..
(a conversa dá rumo a um momento de gozo contra a Maria Felicidade, que sem abrir a boca, reage de forma revoltada contra as insinuações e ideias que criam dela.)
(entretanto, Álvaro brinca insistentemente com o isqueiro)

CORVO

E tu, não paras com isso? És… Piromaníaco, ou quê?

GASPAR

Vais-te queimar…

ÁLVARO

É divertido. É um perigo que salvou a Humanidade.

ROBERTO

O fogo? Salvou a Humanidade? Então porquê?

ÁLVARO

Achas que viveríamos como vivemos, sem o fogo?
Qual é a razão da existência do fogo? As pessoas têm medo de coisas que as ajudam na vida. Em vez de aproveitar o que vêem, aproveitar o que têm à volta… Acabam por desperdiçar a vida.

GASPAR

Eu nunca mandei um isqueiro para o lixo.

CRETA

Deves ter uma grande coleção, tu…

GASPAR
(ri-se, nervosamente)

É verdade…

ÁLVARO

Não te devias agarrar a nada de material.

ELIZABETH

Como tu te agarraste ao fogo? Estás agarrada ao isqueiro. A partir do momento em que gostas do fogo, tens que te agarrar a algo que o crie. O fogo não aparece do nada..

ÁLVARO

Há uma diferença entre estar agarrado, e aproveitar de algo que nos é dado.

ELIZABETH

Acabaste de dizer que não precisavas de nada.

ÁLVARO

De material, não. Não é uma necessidade.

(com um desvio na conversa, o grupo começa de novo a atacar a Maria Felicidade, tendo apenas o Gaspar a defendê-la.)

(…)

ÁLVARO

Cá para mim ela não faria falta aqui.

GASPAR

Todos fazemos falta.

ÁLVARO

Como?

GASPAR

Cada um tem a sua razão de estar aqui.

ÁLVARO
(Muito seguro das suas palavras)

A maior parte de nós acaba por ser insignificante.

ELIZABETH

Olha, agora falaste!

ÁLVARO

Mas só acabas insignificante se te o deixas ser. Para ser grande, sê inteiro. Sê tudo o que és, e faz o teu melhor para sucederes o máximo na tua vida.

CORVO

Ninguém sabe quem tu és.

ÁLVARO

Não preciso que ninguém saiba.

CRETA
(Hesitante)
Grande parte de nós aqui já cometeu um crime. Porque é que nós não… Não nos denunciamos a ninguém?

ROBERTO

Eu nunca cometi um crime.

CRETA
(num tom de ironia)

Dizes tu.

ROBERTO

Que eu saiba.

CORVO

Quantas mulheres já violaste?

ROBERTO

Nunca violei ninguém.

CORVO

Dizes tu.

ROBERTO
(com um ar convencido)

Elas vêm porque querem, não sou como tu.

CORVO
(com uma voz monótona)

Não é bem a mesma coisa… Eu mato-as.

ELIZABETH
(Sarcástica)

Pois, eu acho que isso é a parte que elas não querem…

ÁLVARO
(Com um sorriso frio)

Que é que interessa o que elas querem. Desde que o faças bem e não te metas em sarilhos.

GASPAR
(Claramente perturbada)

Eu não sei como é que vocês conseguem falar assim das mulheres…

CORVO

Mulheres, homens…

ROBERTO

É o que vier, não é? (riso mesquinho) Assim é que é!

ELIZABETH

Da mesma maneira que falas dos pretos, dos brancos, da mesma maneira de que se fala agora dos refugiados… Simplesmente fala-se.

GASPAR
(tentando, sem sucesso, manter algum ânimo na sala)

Esqueceste-te dos chineses.

ROBERTO

Não estamos a excluir aqui ninguém, calma lá…

ELIZABETH

Ah, não! A criança já se excluiu sozinha, claramente decidiu que nem queria vir..

GASPAR
(Com um instinto defensivo)

Ela não o fez de propósito!!

ELIZABETH

Se ela quisesse cá estar provavelmente já cá estaria, não é…

ÁLVARO

Se eu tivesse escolha provavelmente também não teria vindo.

ROBERTO

Bem tu (virado para Gaspar) estás muito a par da situação da criança…

GASPAR
(Suspiro decepcionado)

Eu pelo menos preocupo-me com ela..

ROBERTO

O que é que farias se eu fosse ter com ela?
(Gaspar mantém um olhar persistente e intimidante direcionado à chantagem de Roberto, sem ceder às suas ameaças)

ÁLVARO

Achas mesmo que és importante na vida dela?

GASPAR

Enquanto eu dou uns chutos, ela dá outros.

FIM

File#2

Fascículo (Histórico)

 Ilustração Portuguesa 

 

Apesar ter sido seleccionado um fascículo histórico, as obras fasciculadas abrangem várias temáticas, como por exemplo, as artes, a história, música, filosofia ou literatura como é o caso dos famosos livros do Tintim. Os fascículos são publicações lançadas semanal, quinzenal ou mensalmente, por ordem numérica e que após estarem todos os números lançados, são por norma encadernados num todo, formando um livro. Realmente, já com vista este fim, a ordem numérica era já antevista para que quando todos os fascículos se unissem se seguisse uma ordem.
Em Portugal, este novo método de publicação justificou-se pela época de austeridade que se vivia, deixou-se de se gastar sem olhar ao bolso, e a partir de certo momento isto reflectiu-se na forma como se publicavam e compravam livros ou revistas. Os fascículos permitiam comprar as obras a prestações, mas a pronto ao mesmo tempo, não ficando assim com deveres. Sendo que no final se juntavam todas as publicações reunidas ao longo do tempo.


A colecção, Ilustração Portuguesa eram publicações lançadas semanalmente editadas pelo jornal O Século cuja primeira publicação se deu em 1903, e se prolongou até 1993. Esta longa duração da publicação da revista é no entanto aparente dado que foi perdendo a sua força e importância ao longo dos vários anos, passando a partir de 1931 apenas a editar um ou dois número por ano, estes que tinham relativamente poucas páginas e pouco conteúdo.
Imparciais nos retratos que faziam da sociedade portuguesa, todas as publicações eram ricas em fotografias e que ao longo de todas as edições, demonstram toda uma parte da história de Portugal. Na verdade, a marca editorial destes fascículos era a imagem, e antes o desenho, como se faz notar bem imediatamente na capa das publicações. Nos fascículos da Ilustração Portuguesa ficaram arquivados fotografias, desenhos e registos textuais que funcionam como documentários da vida portuguesa do séc.XX.
Num primeiro momento, em que o desenho era o elemento predominante em toda a publicação, destacaram-se os desenhadores Alberto Souza e Carlos Pereira.
Apesar disto, num segundo momento, foi com artistas e personalidades do Modernismo português que a Ilustração Portuguesa se passou a considerar um catálogo de arte. Personalidades como Almada Negreiros ou Apeles Espanca, o irmão aviador da famosa poetisa portuguesa, este que era apesar disto também pintor modernista de óleos e aguarelas. Jorge Barradas, que se destacou com as suas caricaturas e ilustrações que variavam permanentemente de abordagens, desde influências da Art Decó a opções mais realistas e expressionistas. Estes são apenas alguns dos nomes que fizeram desta revista um importante marco da arte portuguesa.

Mais tarde, passou-se a utilizar a fotografia como recurso constante dadas as suas vantagens, a rápida produção, a veracidade de tudo o que representa e, claramente por ser um instrumento fruto da modernidade. As fotografias eram tanto de fotógrafos profissionais, como de autores amadores que enviavam as suas fotografias para a revista, que as publicava com a indicação do nome do autor.
Em último lugar, um importante factor em ter em conta no historial das publicações da Ilustração Portuguesa, foi a Primeira Guerra Mundial que decorre entre 1914 e 1918, e que dificulta a adquirição do papel devido ao aumento dos custos dos materiais. Por isto, em várias das publicações verifica-se a diminuição do número de páginas e a variação entre os tipos de papel destas.

 

Este slideshow necessita de JavaScript.